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Um retrato do descaso e da falta de planejamento dos transportes em Guarulhos.

      Recentemente foi publicada uma pesquisa do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) das cidades com maior trânsito de pessoas entre si, em que se constatou que os municípios de Guarulhos e São Paulo são os que mais trocam cidadãos no seu cotidiano em todo o país. São cerca de 146,3 mil pessoas que se deslocam regularmente entre as duas cidades.

      Demanda existe! Investimento, planejamento e cuidado com a população para melhorar o transporte esdrúxulo oferecido pela EMTU, NÃO!

      Nota-se aí o retrato de um descaso de antigas raízes. Guarulhos, sendo a cidade de maior demanda por transportes que interligam a Grande São Paulo, enfrenta a precariedade a que é submetido diariamente o cidadão para fazer a travessia. Tarifas caras – entre R$ 4,00 e R$ 6,00, variando de acordo com a linha –, linhas com intervalo de tempo entre um carro e outro que chegam a até uma hora, e veículos constantemente lotados, compõe o aspecto mais visível de como a EMTU mantém um negócio rentável à custa da população, tratada como o gado, em um transporte caro e precário.

    Uma piada oculta – e de extremo mau gosto – com a população guarulhense se percebe vasculhando um pouco a história da cidade: hoje o único meio de ligação com São Paulo são vias urbanas e rodoviárias (ruas e estradas), não possuindo via férrea, ao contrário de muitos municípios da Grande São Paulo que inclusive possuem menor tráfego de pessoas com os territórios vizinhos (exemplos: Ferraz de Vasconcelos, Poá, Mogi das Cruzes, Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, Osasco, Carapicuíba Jandira, São Caetano, Santo André, Mauá, Rio Grande da Serra, etc.) e mesmo alguns municípios fora dos limites da Grande São Paulo que possuem ligação pelas linhas da CPTM com a Capital (Jundaí e Várzea Paulista).

    Outro ponto é que, na ausência de linhas férreas que contemplem a população da cidade, os guarulhenses também não experimentam a integração gratuita com o metrô ou CPTM. Mesmo com o BOM (Bilhete de Ônibus Metropolitano) são cobrados atualmente mais R$ 1,95 ao passar pela catraca da CPTM e do Metrô, e o cartão não vale para as catracas da linha amarela.

      E pasmem: Guarulhos já teve linha férrea!

      Desconhecida das gerações mais recentes, que sofrem na pele o descaso e a falta de planejamento urbano que se verifica uma constante na história da conformação da cidade, tratada como dormitório, a Tramway da Cantareira ligava a Zona Norte à Guarulhos, da estação Areal até Cumbica, passando por Carandiru, Vila Paulicéia, Parada Inglesa, Tucuruvi, Vila Mazzel, Jaçanã, Vila Galvão, Torres Tibaji, Gopoúva, Vila Augusta, Guarulhos, Cumbica. A linha foi desativada em 1965 e a maioria das estações destruídas, restando apenas o trecho que ia do Tucuruvi ao Carandiru, que foi reaproveitado para a construção da linha Azul do Metrô.

 

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Estação de Guarulhos, provavelmente no final dos anos 1950. Foto by Massaimi Kishi.

 

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Estação de Guarulhos. Foto by Carl Heinz Hahmann


    Hoje, a construção de linhas do metrô se torna um horizonte nebuloso, a medida em que não se sabe muito bem os seus custos, e quem arcará com eles. Existe um projeto que já se tornou uma lenda urbana – mais cabulosa mesmo que a lenda da loira do banheiro – , que se fala há quase 20 anos sem nenhuma iniciativa concreta. Além do mais, as obras do Metrô ou da CPTM sempre vem acompanhadas de desapropriações que afetam justamente a moradia das pessoas mais carentes, agravando a já problemática política de moradia no Estado de São Paulo.

     Assim a falta de planejamento das gestões passadas condena a população a um transporte caro e degradante, associado com a inércia na melhoria arquitetada pela EMTU, que lucra mais com os transportes caros, lotados e sem integração e perpetua a situação, entravando qualquer reforma que venha a melhorar as condições dos transportes na cidade de Guarulhos.

   Nesse sentido, é necessário mais uma vez reiterar que, enquanto o transporte público seguir a política de rapina das empresas privadas que controlam a máfia dos transportes, a população Guarulhos padecerá mediante a ação do Cartel da EMTU. Para reverter este quadro é preciso mais que nunca enfrentar a panelinha dos donos dos conglomerados dos transportes, reafirmando a reivindicação de transporte público gratuito e de qualidade como um direito social.

TARIFA ZERO JÁ!!!

Links relacionados:

http://oblogferroviario.blogspot.com.br/2012/07/e-se-i-tramway-da-cantareira.html

http://pt.wikipedia.org/wiki/Tramway_da_Cantareira

http://casaamarelaguarulhos.blogspot.com.br/

http://atarde.uol.com.br/brasil/noticias/1669327-maior-fluxo-entre-cidades-do-pais-e-guarulhossao-paulo-aponta-ibge

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